quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Quatro passos

Pensamentos atribulastes têm perturbado a minha mente nestes últimos dias. Conversas desafiaram a ordem antigamente natural das coisas. O saber deixou de ser saber para passar a ser experiência. Quero com isto dizer que o Parkour continua a modificar-me, e mim, e às minhas ideias. Uma breve conversa com o Kaoz suscitou uma desencadear de pensamentos aleatórios que mais tarde tive tempo de organizar e agora expô-los aqui.

A maneira mais profunda e evidente que esta prática modificou a minha postura com o mundo é a vergonha que sinto ao praticar tal actividade. O Parkour é praticado marioritáriamente na cidade, é aí aonde se aprende os movimentos básicos, expostos ao mundo, às criticas, gozos e devaneios de gente estática, robótica. Assim, o primeiro impacto, o primeiro passo, não é saltar, não é saber aonde por a mãos, mas enfrentar a vergonha. A vergonha de se saber que se está a fazer algo evidentemente questionável pela sociedade, enfrentar isso é sinal de coragem diria eu.
Esse é o primeiro passo para se tornar um traceur. Não vou aqui definir o que é ou não um traceur, para tal, deixo a senhores que estão há mais tempo aqui do que eu.

Então o primeiro passo é enfrentar a vergonha de ser visto, a quebrar as regras de conduta social que implica saltar aonde não é suposto saltar. Vergonha, aqueles que passam daqui são na minha opinião seres que merecem respeito. Enfrentaram o primeiro dos seus medos.
O segundo passo é lidar com a vergonha, esquecer que ela existe. Dizer que o que estás a fazer é de facto aquilo que queres, que desejas e que gostas. Que é certo. Quando se descobre isso, a certeza, então estás seguro de ti mesmo e esqueces o mundo, a sociedade à qual regressas ao fim de cada treino. Quando tal acontece o traceur prova o primeiro gosto da liberdade, a este passo chamo de fugida. Porque aqui foges da sociedade que começas a compreender que não está certa como anteriormente compreendias e aceitavas. Agora quebras barreiras somente com o teu pensamento, porque tens um escape, um treino, cujo periodo de duração te sentes livre, sem barreiras.

O terceiro passo é o desleixo. Já não queres saber o que quebras ou deixas de quebrar, a este passo dou o nome de original. Porque aqui o traceur mostra-se plenamente como é, sem medo, sem vergonha. Aqui já não tem medo de regressar a casa todo sujo, andar na rua sem tshirt, com punhos todos sujos, porque ele esta contente. A afirmação do seu contentamento, da sua personalidade desenvolve uma maior compreensão do mundo.
E aqui chega por ultimo o quarto passo. A compreensão.
Neste passo o traceur deixa de olhar para si mesmo e olha em redor. Vê o mundo então com outros olhos e ouve, observa, com uma nova visão, aonde o andar sujo e sem tshirt é aceitável. Aqui grupos como Rastas, góticos etc etc também são aceitáveis, porque aqui, já os compreende. E porquê? Porque eles são como o traceur, diferentes, mas mostram apenas aquilo que são e não têm vergonha daquilo que são nem do mostrar. Compreensão. Assim o traceur é um ser compreensivo, pacifico, original.

Bem, como todos os pensamentos, estes também podem mudar. Mas para já é isso o que penso.
;)

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