segunda-feira, 5 de maio de 2008

2 anos a sentir-me bem

Deixei de escrever, de dizer por palavras escritas o que se passava na minha cabeça há algum tempo, fi-lo porque realmente me queria esquecer das palavras e apenas concentrar-me na acção que destas advinha. Concentrei-me no treino, começar por coisas básicas como fazer sempre o aquecimento, vi que o meu treino assim saía mais produtivo, repetir para melhorar, fazer as coisas até saírem o melhor possível, tentar alcançar a perfeição, de cada movimento. Tornei-me num ser mais responsável, mais pausado, deixei de arriscar. Sempre segui a calma e respeitei todos os meus limites, tornei-me num dos poucos traceurs em Portugal que pode dizer que nunca teve uma lesão séria ou menos séria enquanto treinava. Fiz dois anos de treino este mês. Considero o meu primeiro ano uma coisa horrenda, indisciplinada, não era Parkour.
Comecei como todos começaram, com a internet. Nada sabia e tudo experimentei. Todos os medos que tive foram superados, tornei-me num verdadeiro guerreiro, que luta consigo mesmo e tenta domar a fera, que não é aquela que quer fazer mas aquela que não deixa fazer.
Comecei quando poucos começaram o seu treino, era Inverno. Bragança é fria, gelada literalmente, aonde paredes cobertas de gelo queimam as mãos e as deixam vermelhas e sensíveis, consegui ultrapassar o medo do frio e tornei-me num esquimó traceur. Cheio de dores e numa tentativa de suicídio tornei-me num traceur, pois os meus joelhos já tinham sido diagnosticados de ponto final, médicos me disseram que não iria voltar a correr como deve ser.
Com lágrimas voltava outra e outra vez a casa após o treino. Joelhos doíam.
Agora, dois anos mais tarde, sou o que sou, faço o que faço.

Foi tudo ultrapassado, a história diz por si só o que se passou, não contada por bocas infames, mas pelos factos.
Conheci pessoas, delas fiz companheiros de vida, amigos sinceros, que partilham algumas das minhas paixões. Conheci todo um conjunto de pessoas neste meio que nunca teria pensado existirem, e não me arrependo de ter conhecido qualquer uma delas, mesmo com aquelas que agora não me dou, aprendi algo.
Viajei, país fora e estrangeiro em busca de conhecimento, novas formas de movimento. Posso dizer hoje que conheço Portugal graças ao Parkour. Ensinou-me a nunca estar parado, a conhecer o eterno movimento, fluxo de gente, que conheces e desconheces, que te cumprimenta em casa ou à porta do metro. Ensinou-me a discriminação, mostrou-me o quanto cruel e ignorante ela é. Deu-me compreensão, mostrou-me a igualdade, a força e a coragem, a vontade de existir de cada um. Cada gargalhada, cada sorriso de cada ser que se mexe trouxe para mim felicidade, ajudando cada pessoa a ser mais forte, estava a fazê-la sorrir mais vezes. O gosto e o desejo de querer mexer fez destas pessoas autênticos artistas.

Dois anos... não são nada e parece tanto!
A todos aqueles que partilharam comigo estes momentos, aquele salto, aquele suspiro, aquele sorriso, aquele suor, aquele tombo... Obrigado
Continua a crescer, a tornar-te forte, a evoluir. Senta-te e pensa no que te está a acontecer, reflecte em cada momento, sente-te feliz por te poderes mexer, por conseguires saltar, por poderes dizer que conseguis-te. Sente-te bem! Sê feliz.
Não te julgues preso a regras porque nem aqueles que as ditam sabem quais são, sê livre, sente-te livre, cria-te.